“Uma academia é definida como instituição que tem por objetivo mais imediato reunir uma elite intelectual que seja expressão e sustentáculo cultural de um dado momento histórico”
– Prof. Fritz Teixeira Sales, organizador da Universidade de Brasília.
Preliminarmente temos no estatuto da tradicional Academia Brasileira de Letras (ABL), instituição cultural inaugurada em 20 de julho de 1897 e sediada no Rio de Janeiro que teve como seu primeiro presidente o imortal Machado de Assis, que seu objetivo é o cultivo da língua e da literatura nacional. A Academia mais antiga do Brasil, ainda em funcionamento, é a Academia Cearense de Letras, fundada no dia 15 de agosto de 1894, três anos antes da nacional.
O modelo da Academia Francesa, fundada pelo Cardeal Richelieu em 1635, das Cadeiras dos Patronos foi adotado em linhas gerais pelos fundadores da ABL com uma inovação. Na referência inspiradora, as cadeiras não são numeradas e não tem patronos. Na francesa considera-se patrono o primeiro ocupante da Cadeira. No Brasil, o critério da escolha ficou por conta dos Acadêmicos que deveriam nominar para sua Cadeira o nome de um vulto emérito da literatura ou da área representativa do colegiado. O regimento à época destacava o objetivo “reunindo assim, sob o mesmo teto, a veneração respeitosa pelos homens ilustres que engrandeceram a nossa história literária e o esforço fecundo dos que presentemente procuram engrandecê-la ainda”.
Memorável e acertada a ideia oficial de que nos discursos de recepção, o novo Acadêmico apreciará a personalidade e a obra dos patronos e dos antecessores, e o do recipiendário versará o discurso do Acadêmico designado para saudá-lo. A Academia funciona como uma instituição de memória, ao preservar os acervos e a contribuição história de seus membros, e ainda, manter viva a presença de seus patronos como contribuição para as futuras gerações.
Cito como exemplo o estatuto da Academia Brasileira Rotária de Letras – ABROL que cita dentre seus objetivos existenciais congregar rotarianos e rotarianas para promover a cultura, estimular e desenvolver estudos e produção literária, artística e sociocultural sobre Rotary, seus objetivos, serviços, vultos e seus exemplos. Além de contribuir por todos os meios ao seu alcance para construir, reconstruir e preservar a memória e a história de Rotary. Responsabilidade, tarefa grandiosa e missão árdua para seus membros.
Compartilho do entendimento de que na sua condição de alta agremiação literária, deve ser capaz de dinamizar a vida cultural do espaço onde se insere, sob o signo da renovação, mas, todavia, sem perder de vista o cultivo das melhores tradições como contemporânea e atemporal.
Teoricamente, pode candidatar-se a acadêmico todo brasileiro nato que seja autor de obra literária de reconhecida importância, ou de obra impressa de outra natureza, mas com qualidades literárias. Na prática, o critério decisivo é o prestigio social, antes e depois da eleição.
Em artigo sobre o que se espera de uma academia, o presidente da agremiação paulista Prof. José Renato Nalini destacou que elas são guardiãs do vernáculo e, portanto, disseminar o bom uso da linguagem, estimular a escrita e a leitura, propagar a literatura, tudo isso vem a ser escopo de uma Academia, mas não só. Trata-se de instituição capaz de congregar 40 pessoas irmanadas por ideal de tamanha abrangência e tem de oferecer muito mais à sociedade que a acolhe e referencia.
As academias, neste mister, devem ser fiéis ao ensinamento do “Bruxo do Cosme Velho”, reunir plurais literatos pois são de Letras; acolher pessoas que a ela concedam visibilidade, permitir o ingresso de jovens, para alegrar o ambiente tido como protocolar; além de funcionar, prioritariamente – observada a sua vocação – como casa de bom convívio e extrapolar o corporativismo, ultrapassando os muros e chegando ás escolas, universidades, estabelecimentos de ensino e culturais, sem restrição alguma. Não por acaso, o tratamento dispensado entre os acadêmicos é fraternal: confreiras e confrades. Nas atividades, além das conferências, palestras, apoiamentos institucionais e da oratória própria aos cenáculos, a Academia deve ser o espaço da conversação, integração, interação, intercâmbio e por que não, divergências sadias.
Conceitualmente a Academia de Letras é, sobretudo, institucional. Visa o estudo e o aprimoramento da língua nacional; o exame ou reexame da história do seu povo e o registro da linguagem regional. A academia cultua a memória dos seus escritores, nacionais e estrangeiros, suas vidas e obras, revivendo-os perante as novas gerações. Sobretudo, o papel da Academia é muito próximo, senão inserido no agir do estado, na gestão cultural e educacional de seus governos, discutindo seus conceitos. É sábio o governante que conclama seus acadêmicos para essa tarefa superior. Cumpridora de sua tarefa e missão a academia que preenche sua existência com lastro nesta visão.
É imperioso destacar que a Literatura e a Língua Portuguesa, em suas formas mais legítimas são as ferramentas que mantém viva a essência de seu povo. Integrar-se a sua comunidade e a seu tempo, por meio das novas plataformas, sem perder de vista seu papel mantenedor da tradição com visão de futuro.
A finalidade, o fim precípuo das Academias de Letras é o de se dedicarem à literatura, às ciências e às artes. Seus membros – acadêmicos (as) – escolhidos (eleitos) que foram por seus pares, deverão ser pessoas interessadas no culto da língua pátria, no aperfeiçoamento do uso do vernáculo corretamente, no incentivo à leitura, na publicação de obras literárias, nas rodas filosóficas onde o debate sadio, o respeito à norma culta, à Educação como um todo deverão nortear as discussões.
A Academia de Letras não é um fim em si mesma. Concluo com a assertiva do professor Fritz Teixeira Sales de que as Academias são frequentemente acusadas de serem instituições fossilizadas, estagnadas e inoperantes. Quando ocorre terem fundamento essas denúncias, a culpa cabe, sem dúvida, aos próprios acadêmicos. Afinal, poucos têm, como eles, tanta autoridade intelectual e social para fazer algo objetivo para nossas letras através das próprias letras.
O certo é que as Academias continuam a existir e mostram instigante vitalidade; respeita as visões divergentes, aceita a verdade contida no dogma do pluralismo e da tolerância e, ainda; mantém a finalidade estatutária o que por si só justifica sua presença notória na sociedade com o fim de manter imortal a obra, história e contribuição de seus pares e da instituição que lhes confere a honrosa deferência.
Viva a Academia com todas as Letras!
Gilmar Cardoso
Cadeira 28 – Patrono: Clotário de Macedo Portugal
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